Monday, August 07, 2006

SOL E LUA

Na secretária envolta de papéis rascunhados e livros abandonados
Não cabe uma imagem perdida de um olhar fugidio:
Olhos isentos de conclusões que compõem narrativas de passagens,
Cabelos caídos ao peso da gravidade que empurra em descendente,
Formas que trespassam os ideiais encontrados na multidão...
Há lugar para as imagens das palavras que pousam na secretária.

respiro na respiração dos teus olhos
onde os cabelos escolhem o caminho
caminho de lábios e fontes com dedos
de sol - quero arder - fogo de asa na anca.

o que acendi, acendo, acende tudo em ti, na
boca já não oiço - mereço-te nas colinas
dificeis da lingua, a imagem sobe no ecran
os barcos para as pernas na folhagem
dos lençois brancos de linho, o perfume
de um novo abraço, tudo desliza no suor dos
corpos e olho, e olho-te claro o mar
a vertente do pulsar do sangue,respirarei
na tua respiração boca para abrir e devorar

Na respiração fecunda do encontro fundem-se estilhaços,
Transportam-se de vivências contundentes e turbulentas.
Surgem espasmos de loucura e devaneios de carícias.
Não consigo distinguir a alucinação da realidade.

a noite corre no meu corpo, já toca o teu
na folhagem das caricia, alucinado cruzo
as pernas nas tuas ancas,os mamilos
na lingua doce, procuro o umbigo,as
mão seguram forte - rodamos de costas
é para bater, para bater onde surgem os
espasmos,turbulenta a noite do desejo
procuro-te na respiração fecunda,os dedos
e o membro engrossa longo na humidade
dos óleos - o rosto nu, de frente na mesa
uma cortina de arrepios, vamos onde já não
sossega, o passaro arde a sua própria maré



A brutalidade do momento espanta os desejos do contexto.
Trago indefinições de tragos de amor...
Curiosidades sedentas de brilhar no contacto da pele.
Trago incertezas enraizadas na seiva do meu corpo.

a seiva já devora toda na noite toda
sentes a pele, abre o gemido,brilha
onde a polpa cria a própria água
eu quase fabrico o teu umbigo

mas eis a dança dos corpos nús
os sentimentos simples, as palavras
pobres, segura o tronco, o seu encanto
dadiva que entra e foge como fogo nos
cabelos longos, abre-te ao dedo do sol

Olhando o sol queimo as pestanas mas continuo a olhar.
O fogo marca-me o corpo mas o calor envolve-me de palavras.
Abre-se o caminho num rasgo de intemporal...
Vejo a pintura de Auvers de Van Gogh na minha frente.
Qualquer caminho que escolha será o rumo para o abismo.

que interessa o caminho , é para o som do corpo
na folhagem de um quarto, vences porque vence
o teu corpo, vamos, gostava de ouvir a tua voz
agora, no sabor da carne, deita-te sobre mim
a mão do orvalho torna-se ligeira, toda a alma é
fresca, e respira branca

A minha voz é suave e sem grandes ondulações.
Em antítese com o meu corpo
Raramente o som se torna estridente.


Mónica Correia e José Gil