Tuesday, May 31, 2005

DESABAFO

Tropecei no meu destino e averiguei as semelhanças da reencarnação do amor. O desejo é uma circunferência da qual não consigo sair. Estou presa de fantasias e liberta de vontades. A pressa de chegar ao fim assusta os pássaros que me contemplam da janela, ficam mudos com os meus discursos e fogem como se nunca me tivessem visto. Sou um Quasimodo e as palavras soltas são Notre-Dame onde me refugio.

NAVEGAÇÃO

Testemunho da humanidade transcende no planalto da juventude... já procurei em fontes remotas o elixir agora resigno-me às algas que o mar me devolve e com elas construo histórias que registo no meu diário de bordo. Navego entre sinais de encontro à ilha sem rumo.

INTIMIDADE

Rasguei a manta de sol que nos cobria e deixei a nossa nudez contemplar a lua e a escuridão. Atravessamos imagens e espaços infindáveis para encontrarmos paraísos desertos de loucuras... bebemos na fonte do desejo e o nosso cheiro queimou ondas de vontade e clarificou muitas obscuridades. Agora contemplamos a lua, lado a lado saciamos a vontade do saber especulativo... a escuridão sussurra-me ao ouvido e diz que tu és o amor do meu desértico percursso.

MÃOS

Trago as mãos apertadas porque não quero receber mais nada. Comprimem o isolamento e agradecem a nostalgia das noites sem fim. Estão algemadas de amor e apertadas para mais nada receber. Trago as mãos cheias de tudo e vazias de nada... trago silhuetas distantes e fogosas paixões escondidas nas poções do esquecimento. Continuo com as mãos apertadas porque não comporto mais emoção.

Monday, May 30, 2005

POEMA

Da tua imagem venerei uma fantasia que coloquei no meu livro de poemas. Dos teus olhos construí um poema que canto insistentemente como canção de saudade. Saudade das tuas mãos que receberam um presente codificado de palavras simples retiradas do meu poema. Letras embrulhadas em carinho e expectativa que se apagaram com o tempo que passou. Guardo agora um retrato de um momento em que as minhas palavras não foram perceptíveis ao teu pensamento.

PROXIMIDADE

Sobe o ânimo, desce a alegria.
Sobe o desejo, desce a fantasia.
Sobe a loucura, desce a insanidade.
Cada vez que o elevador sobe cresce a expectiva e cada vez que desce desemboca na amargura.
Quanto tempo vai durar a rotina dos andares e o desencontro dos vizinhos. Tão próximos e tão longe!

SONHO

Recuperação de um sonho desgastado e amarelecido. A fadiga corre nas veias e é tão rápida que me consome a alma como um cancro. Estou cansada de sentir... estou cansada de fugir... estou cansada de me mentir... o sonho faz parte de um passado recente iluminado de fantasias e enterrado vivo. Foi envolto de luminosidades que não passaram de ilusões temporárias que guardo na memória como quadros na parede. Foram os Girassóis que nunca me ofereceste que me pararam no tempo tal como os de Van Gogh me consomem o olhar. Atentamente revejo que o sonho está desgastado e amarelecido.

NASCIMENTO

A terra fecundou... gerou-se mais um ser de sofrimento. Vai nascer um cordão de paisagens reais que se vão sobrepondo com o passar do tempo. Vai formar-se um coração de repulsas e os restantes orgãos vão tocar na orquestra do corpo. A melodia começa com gemidos e batidelas cardíacas, pontapés ensurdecedores no horizonte. Passaram os meses da coabitação e chegou a hora de gritar: Cheguei!

PENSAMENTO

No vazio do meu pensamento corre a ansiedade de ver as estrelas nos teus olhos. O céu escureceu e transpira um aroma a fresco que retempera os sentidos. "De noite todos os gatos são pardos" e não encontro viva alma que reconheça a solidão do horizonte e que contemple o vazio como se de algo se tratasse. Loucas as mentes de corpos insolentes que se propagam e isolam das suas almas térreas com devaneios carnais e passagens efémeras por alguns lugares. O sol está a nascer e eu continuo a contemplar o luar iluminado que transpõe o meu pensamento de nada.

Sunday, May 29, 2005

3º ACTO

Estamos no limite do tempo e a idade foge-nos por entre os medos e venturas... Sou uma caçadora de emoções e como Diana corro no teu alcance. Atravesso todos os caminhos e obstáculos no trilho dos teus passos. Como vamos acabar esta peça? Cai o pano e acaba o 3º e último acto.

2º ACTO

Sobe o pano e estamos deitados na cama de rede segura no deserto do nosso amor. Vamos à procura da água e perdemos o rumo à distância. Contamos as areias para nos encontrarmos e a bússola indica-nos caminhos diferentes. Cai o pano novamente.

1º ACTO

Personagens caracterizadas espalham-se no palco do hemisfério. Transborda a água ao primeiro grito cénico. A gargalhada dos teus olhos solta-se na verdura do ambiente. Eu vou à procura do som das aves que é quase inaudível. Estou faminta dos teus ossos e a tua carne é pecado capital. Cai o pano e acaba o primeiro acto.

Saturday, May 28, 2005

MILAGRE

Sigo um ritual de vazio inquietante. Percorro os mesmos caminhos ao encontro dos dias de nada. Rezo para que um milagre das rosas aconteça na minha vida e o seu aroma entre nos meus sentidos e me deixe extasiada. Estendo os braços, cruzo as mãos e solto murmúrios em som de desepero. Mas os meus dias de nada são uma constante e continuo a trazer pão no meu regaço.

DÚVIDAS

Dúvidas de viver com ansiedade, dúvidas da verdade... Relembro a história de Pedro e Inês e a mágoa invade o meu livro. A revolta das páginas é uma constante na história de amor. Pedro consumiu Inês quase até ao fim... mas o fim de Inês foi arma mortífera para todas as personagens. O meu livro reclama por piedade e eu sofro com Inês ao ver a crueldade levar a sua vida e choro com Pedro ao contemplar o seu amor já com alma elevada e o corpo inanimado... Dúvidas de viver com ansiedade, dúvidas de verdade...

MISTÉRIO

Esgotou-se o mistério... essa nuvem ébria que cobria a minha vida partiu para outro lugar. O enigma ficou por decifrar mas a minha alma está cansada e não consegue pensar. Esgotou-se o mistério... o meu corpo desintoxica desse amor envenenado que me cortava a respiração. O enigma vai ser decifrado por outra vontade... esgotou-se o mistério para mim...

Friday, May 27, 2005

DECISÃO

Estou sentada entre o passado triste e o futuro desconhecido. A cadeira é frágil e carrega a responsabilidade de me transportar na felicidade. É a minha máquina do tempo em que atravesso os estilhaços da minha história e procuro encontrar os fragmentos do que ainda está para vir... na minha frente está a Igreja de Auvers pintada por Van Gogh, talvez me encontre na mesma encruzilhada: tenho dois caminhos e não sei qual escolher... a imensidão de amarelo fica a tilintar nos meus olhos, fecho os olhos e decido ír por ali... será que vou encontrar algo de novo? É o caminho que eu escolhi...

AMOR

Às vezes és ave e voas longe buscando o teu território em lugares distantes que eu não ouso chegar.
Às vezes és flor exorta que irradia beleza.
Às vezes és floresta desconhecida que receio explorar.
Às vezes és cântico de elegias que não consigo compreender.
Mas todas as vezes és tu e só às vezes é que me consegues amar.

Thursday, May 26, 2005

PÉROLAS

Trago um véu sobre a cabeça como uma eterna noiva que vê o mundo através de um tecido... vejo a realidade distorcida... na minha história não há lugar para águas frias... não há espaço para casas de ilusões, há compartimentos, há pérolas pequeninas que enfio num colar do imaginário e coloco no meu pescoço como se enfeita uma árvore que perdura agarrada aos seus desencontros e suga pelas raízes a vontade de viver tudo até ao fim.

PASSOS

O som dos teus passoas ecoa na minha cabeça como um tambor que anuncia a tua presença.
Solta-se um misto de ventos no meu interior com os quais luto e desejo sem saber qual a escolha mais certa. A brisa diz que o mar é infindável e que nunca o conseguirei conhecer, mas o outro vento diz que todas as águas procuram um caminho... o caminho continua anunciado ao som dos teus passos... que eu procuro e renego... vou mergulhar e procurar o meu caminho.

Sunday, May 22, 2005

PINTURA

Ansiedade palpitante e cansativa. É uma onda que vai e vem e deixa sempre um gosto salgado na boca... é uma pintura inacabada que não sabemos como terminar. Vejo o sol mas temo a chuva, vejo o caminho mas não o atravesso, vejo o amor mas não o consigo alcançar. Não sei de que cores pintar a minha vida!

Friday, May 20, 2005

SUBLIMAÇÃO

Depósito de energia flutuante que paira no silêncio constante. A condensação dos sentimentos emerge numa descarga de expectativa. Frustração da natureza... não compreendo os fenómenos que impedem a sublimação.

Tuesday, May 17, 2005

SORRISO

Sorriso de dor com enfeite de alegria. Porque é que deixaste de sorrir para o mundo? O chão agradece os teus passos, a natureza ama a tua voz e eu venero a tua imagem como os peregrinos da fé, faço caminhadas descalça ajoelho-me até sangrar e mesmo assim a tua expressão não se altera... sorriso de dor com enfeite de alegria.

CAMINHO

Entrei no carrossel e andei à volta com o destino sentada na berma do abismo. Sozinha enfrentei os moinhos de Cervantes e fui amante de Picasso. Como sobreviver sem cair no abismo? O caminho é tão exíguo e ténue... percorro-o em pontas dos pés como uma bailarina e dou voltas e mais voltas... e fico tonta por querer consumir o mundo.

Thursday, May 12, 2005

PORTO SEGURO

É o azul que te fascina? A imensidão da água ou o azul dos olhos que te fazem reviver os tempos de loucuras juvenis...chegaste e foste ficando, vais e vens e envelheces nos meus braços sem nunca me conheceres. Eu não te escolhi mas permito a tua estadia e penso em ti como um porto seguro no qual me movimento com algum conforto. Eu gosto do azul e da luz que transparece dos olhos que passam por mim na rua e me lembram que os anos passaram e eu continuo à procura do barco que me leva na imensidão da água que tu só procuras para pescar.