Thursday, June 23, 2005

FRAGMENTOS DE LUZ

Fragmentos de luz que escurecem o meu céu de intensidades. És lua crescente que ilumina a minha obscuridade. Trazes de volta a alegria e loucura juvenil e é no teu desejo que atinjo os infinitos do finito. Na ausência da tua imagem consumo a sombra que o sol me oferece. O calor transpõe a nossa presença e os nossos caminhos são paralelos, sem desvios... procuramos sentidos sem nunca nos cruzarmos... somos fragmentos de luz.

Monday, June 20, 2005

MELODIA

No desencontro dos dias é o sol que traz música aos meus passos. Ao som da Sonata ao Luar a claridade desce sobre mim e encanta-me como faz à serpente o seu encantador. Estonteada com as notas procuro o sítio de onde vem a melodia. Os acordes trazem recordações do que não se passou e ansiedades de histórias por viver. Danço por entre os caminhos que percorro e fico exausta de tanto esforço... de onde vem esta melodia que me faz dançar compulsivamente?! Está na aragem dos meus dias e nasce com o sol do meu caminho.

Sunday, June 19, 2005

HISTÓRIAS

Palavras de encantar com personagens especias. Os príncipes e as princesas envolvem-se em laços de cortesia e emoção com cenários cor de rosa. São envolvências felizes, por vezes a trama é dramática mas no final tudo sempre acaba em felicidade. O bem combate o mal.
Onde estão as histórias reais? No jornal encontramos notícias do mais sórdido que existe no ser humano:"Mulher esfaqueada sete vezes pelo marido". Onde ficou o amor desta princesa? O cor de rosa num instante se tranformou em labaredas de inferno e o príncipe em diabo. O mal liquidou o que havia de bom...

Friday, June 17, 2005

LIVRO DE SONHOS

Uma folha branca por companhia e uma caneta...
Emito palavras, risco sons, pinto melodias... ando a procurar o indefenido, quero definir o que não conheço e oferecer o que não tenho. A inconstância trespassa o branco deixando mácula de sangue que carrega a caneta de palavras. São vermelhas as letras da minha imaginação e carregadas de espaços em branco... Páginas do livro dos meus sonhos que se transporta na intemporalidade.

FOI ASSIM

Cheguei ao vale da emoção e a população da felicidade tinha emigrado.
Enfrentei a solidão para me encontrar com o desconhecido.
O mistério da vida foi o quotidiano das minhas acções.
Construí os meus quadros e quadrantes e aprendi a natureza dos sons.
Conheci o fruto do pecado e enamorei-me da serpente.
Sonhei acordada com os passos marcados na areia.
Procurei o mar na sede desertica do teu amor.
Encontrei uma mensagem vazia na passagem dos teus olhos.

Thursday, June 16, 2005

TODOS OS DIAS

Todos os dias desejei que a ave voasse mais alto do que o alcance dos meus olhos e isso não aconteceu...
Todos os dias percorri espaços temporais entre sons e sinais esperando a descodificação e isso não aconteceu...
Todos os dias o imaginário transbordou a sensatez desejando a invasão da coragem e isso não aconteceu...
Todos os dias foram suficientes para perceber o que não aconteceu.

CUMPLICIDADE

Afago o teu corpo na rasteira do desejo. Procuro rotas nos teus caminhos e permaneço cansada. Construo arquitecturas de fantasia para enfeitar os nossos passeios. Imagino o jardim onde as nossas mãos se entrelaçam e contamos desventuras. Sorrimos e choramos, existimos com Descartes e sofremos com Anne Frank...somos uma espécie de Simone e Jean-Paul que descascam a vida ao som da melodia do mundo.

Tuesday, June 14, 2005

EXPECTATIVA

O silêncio das vozes é uma gravidade que oprime nos dias.
Na espera da voz percorro o caminho da luz.
Os olhos transparecem firmeza e as mãos fragilidade.
Na expectativa do ruído percorro o caminho de todos os dias.
Em silêncio continuo no desenrolar de todos os gestos vulgares.
Procuro a boca que em silêncio me vai cantar.

SONHO

Trago nas palmas das mãos o "sonho que comanda a vida".
É macio e escorregadio, é uma pluma que cai insistentemente das minhas mãos.
Todos os dias faço o exercício de apanhar a miragem e colocá-la sobre a mesa... mas a pluma é leve e voa!Voa para outras mãos.
Todos os dias vou roubar a mãos alheias o meu "sonho que comanda a vida".

Monday, June 13, 2005

ADEUS EUGÉNIO

Adeus Eugénio...
Foste companhia dos meus tempos juvenis.
Enquanto os outros não me viam eu
procurava as tuas palavras...
Enquanto só a solidão me compreendia eu
procurava as tuas palavras...
Enquanto o Pão Ázimo de Torga caia no lixo eu
procurava as tuas palavras...
Foste a minha salvação de momentos efémeros,
Foste companhia dos meus tempos juvenis.
Adeus Eugénio...

Sunday, June 12, 2005

RELÍQUIA

Pedra preciosa que guardo na gaveta do universo para que ninguém a encontre. O tempo trouxe-me esta relíquia que abraço e escondo para que ninguém a encontre. Apesar do seu espaço ser universal é na minha gaveta que se transporta para que ninguém a encontre e mostra-se na transformação das cores só para mim. Solta poemas e segrega canções que eu guardo para que ninguém encontre. Pedra preciosa que guardo na gaveta do universo para que ninguém a encontre.

FRAGMENTAÇÃO

Recostei-me num momento de descontração e a adrenalina surpreendeu-me com a tua visão. Os meus ossos estremeceram, as pernas enfraqueceram, o estômago rodopiou e as ideias entrelaçaram-se sem clarividência... tanto movimento para um corpo só. Não comporto estas emoções cristalinas, estou delapidada de vida e não quero fragmentar-me ainda mais.

HOSPEDEIRA

Dia de Primavera que transporta beleza verdejante... és estado de alma itenerante em busca da perfeição dos teus dias. Um dia amas o sol como se nunca o tivesses visto no outro dia procuras a lua porque já não aguentas a claridade, carregas em ti o dom de te transformares e a coragem de encontrar alma nas coisas.

EU

Os discursos esquecem-se com o sabor das intempéries e eu registo nos papéis as temporalidades que atravesso nos meus dias. Perco o rumo ao cair da noite e adormeço sempre com um ideal visonário que teimo em não cumprir. As ansiedades acumularam-me em desgostos de futilidade que se enraizaram na minha alma e dos quais não me consigo libertar. Liberdade condicionada que me condena à leitura de histórias de outros que sofrem e registam os acontecimentos. Acontece assim mais uma existência, mais uma apenas...

Saturday, June 11, 2005

ECLIPSE

Degusto o teu paladar e no sexo encontro o sabor extenuante do alcance. Procuro o teu cheiro na aragem dos lençóis e encontro a tua pele enroscada nos meus membros frémitos. Desígnios de loucura, carnalmente te escorro nos dedos e reconheço a tua voz: o som é animalesco, penetras no horizonte e é o crepúsculo do eclipse.

ONDA

O mar é quase tudo e o tempo quase nada... estonteados voltamo-nos e reencontramo-nos. Fugimos das ondas mas água persiste em molhar os meus pés e eu não consigo sobreviver... O sal sufoca-me os olhos e as algas esbatem as minhas visões. Sou um intervalo nas tuas pinturas, um rabisco disforme para o qual não encontras obra a concretizar... tu és prece, és onda ébria e estonteante na qual desejo me afundar.

ESPERANÇA

Apanhei boleia na estrada dos dias e fui pelo caminho desconhecido para a terra da procura. Encontrei espaços de ninguém onde coabitavam ausências de mundo... conheci seres algemados na corrente dos pensamentos moralistas que se transportavam em estádios materiais pensando que isso era a felicidade. Esses conceitos variáveis que nos incutem como automatismos inerentes às nossas funcionalidades são estigmas que carregamos e desígnios de luta. Parti e fui apanhar outra boleia... tento ver para me rever no passado que se esbate na sombra dos dias... fui pelo caminho desconhecido para a terra da esperança. Quem sabe!?

Friday, June 10, 2005

PERSONAGEM

Eu sou o pirata que te removeu as emoções, despojou de amor e te libertou.
Tu és personagem de uma história que representas no teatro dos teus dias, um papel volátil sem percepção e vulnerável. Os adereços são o conteúdo do teu passado fútil e não reconheces as pérolas que desembocam no teu cais. Ausência ou sofrimento?

FRETE

Fazer de encontro a algo que nos dá prazer é a alegria de estado de graça. Quando fazemos a obrigação dos nossos passos para o caminho da finalidade objectiva damos-lhe o nome de frete.
Palavras que traduzem estados que vão de encontro à nossa busca permanente, à insatisfação dos nossos dias...

CANSAÇO

Esfreguei a lâmpada de Aladino e o génio dos teus olhos entrou na minha alma. Os desejos ficaram obcessivos na intemporalidade, as estrelas construiram castelos no meu espaço e eu permaneci sentada a contemplar o horizonte sem acesso à tua história. Ó génio volta para dentro da lâmpada e leva contigo o meu arco-íris de contemplações, a minha nuvem do imaginário, estou cansada da chuva nas estações do desencontro, estou cansada do vento que atravessa os meus olhos, estou cansada...

BAIANA

"O que é que a baiana tem?" Tem doçura e encantamento de fruta fresca pousada nos seus olhos. A vitalidade transparece como o rio e na sua foz encontro um abraço do tamanho do mundo!

Saturday, June 04, 2005

ÍNDIA

Índia de pele branca e cabelos dourados, és oásis no meu deserto, és contemplação de que nunca me canso, és verdade no pântano... defensora do mundo suave e cor de rosa exalas perfume de flor campestre. A tua delicadeza é ternura na violência dos dias. És uma janela que abro e através de ti vejo o mundo com mais beleza.

Thursday, June 02, 2005

REENCARNAÇÃO

Entrei no castelo e a miragem foi gratificante. Os cavaleiros passaram com as suas armaduras imponentes. Os reis apareceram erguendo a sua importância. As princesas brincavam com o mundo e o desejo aos seus pés. O padre tecia discursos de moralidade como Penélope trabalhava no seu tear. Tanta redundância de aparências... tanta vida mundana... e os dias passavam todos diferentes e tão iguais. Um dia chegou um trovador que se enamorou de uma princesa e fez poemas e canções mas a sua recompensa foi o desprezo da princesa. O trovador partiu daquele reino e foi pelo mundo cantar e declamar o amor que não pode oferecer à sua amada. Ainda hoje as pessoas se comovem com as suas canções de saudade e tristeza. Ainda hoje quando fecho os olhos encarno a sua personagem.