PERSPECTIVAS 

FESTA

Chamaram-me na noite da fantasia
Mas não tinha máscara para a festa.
Fui de cara lavada e corpo cansado.
Arrisquei a vontade pela elegância perdida.
Levei alguns textos em troca de beijos.
Trouxe na pele a troca dos desejos.
Levei os detalhes da tua passagem,
E trouxe a distância dos teus olhos.

COMPOSIÇÕES

Infinitudes desalinhadas que se costuram na minha indumentária.
Retalhos de paixões literárias intercalam com fugacidades carnais.
Bordados de emoções translucidas que afagam e aquecem o corpo.
Pequenas histórias se escrevem nos tecidos que nos cobrem.
Composições que se elevam e caem nos designios do prazer.

CONSTRUÇÃO

Criando lagoas na areia sem pressentir o abismo.
Exploraste os alicerces onde o terreno era escorregadio
Eu construi divisões habitaveis acalentadas por o desejo.
Tranportei materiais inconsistentes de loucuras decorativas.
Decorei a nossa casa com o êxtase das tuas mãos.

FÉ

As verdades que apelamos como fundamento
Revelam-se inseguranças no momento do apelo.
Esperamos respostas na passagem das horas
E as interrogações acumulam-se ao cansaço.

MARESIA 

ONDAS

O vento bate no meu corpo e sinto a chegada do temporal.
Estou sentada sem saber que nome deste aos teus dias.
Eu desenhei histórias na areia e contei as ondas.
O mar trouxe, levou e lavou o pensamento dos teus olhos.
Afundei-me na maresia que me desperta os sentidos.
Esqueci a linguagem para descodificar o fundo do mar.
Onde ninguém chega eu vi os corais das tuas mãos
E senti as ondas no entregar volatil do meu corpo.

INVENTARIO

Com a chuva chegou o inventário das causas perdidas.
Na lista que permanece há algo mais a acrescentar.
Cada gota cada lágrima, salga o caderno do resumo.
O débito de esperança estrangula o crédito do desconhecido.
Os números estremecem nas minhas mãos
Como se queimassem a minha sensibilidade.

TRANFORMAÇÃO

TRANFORMAÇÃO

Onde está a magia da tranformação?
Transforma estas lágrimas em alimento.
Dá alimento a quem precisa...
Estou cansada de sentir, estou cansada de viver.
Quero partir no céu como as aves
Sem destino nem regresso.

ABANDONAMOS

Trouxemos estrelas que pousamos no chão.
Trouxemos flores que enfeitaram as paredes.
Trouxemos as tintas que pintaram o nosso amor.
Deixamos entrar a brisa do desejo.
Deixamos a luz enfraquecer para nos abraçar-mos.
Deixamos a vida suspensa para nos amar-mos.
Abandonamos as telas que se diluiram.
Abandonamos as paredes onde o amor respirou.
Abandonamos o momento da nossa vida.

PALAVRAS

Nas palavras encontro a fé dos meus sentidos,
Por elas desejo o bem e a generosidade por si só,
Com elas percorro os dias infinitos de angústia
E através delas transmito os momentos de prazer.
Reconhecemo-nos assim eu e as palavras.
Como se fossemos unas, inseparáveis...
Temos uma relação metafísica e uma dependência.
É pelas palavras que me encontro no mundo
E através delas deixo o meu testemunho.
Reconhecemo-nos assim eu e as palavras.

GAIVOTA 

GAIVOTA

No desenrolar dos dias de intempérie uma gaivota veio pedir-me alimento.
Apesar do vento que trazia nas asas um pouco cansadas exibia a sua beleza com orgulho.

Trazia nos olhos a vontade das aventuras pelo mundo e sentou-se ao meu lado.

Contou-me os desejos que vivera e os que desejava ainda sentir pela vida.

A minha alma comunicava com aquele pássaro que me fazia companhia.

Alimentamo-nos de histórias e fantasias e continuamos a viver.

GUARDADO

Na vivência das horas caem sentimentos como chuva,
Molham-se os olhos na natureza dos dias
Rasgam-se as fotos da tua lembrança
E guardo os teus beijos no baú dos desejos.

TRISTEZA 

DOR

É real ou imaginária a dor que nos trespassa alma?
Sentimos ou imaginamos o que nos corrompe a imaginação?
Alastra-se pelo corpo como a propagação de uma enfermidade...

Destroi-nos lentamente como se lhe desse prazer.

Dilacera-nos a pouco e pouco tirando-nos a dignidade.

SE EU PUDESSE

Se eu pudesse atravessar a fronteira e batalhar
Derrotaria esse temor que te suga a vida a cada dia.
Se eu pudesse entrar no teu corpo novamente
Viveríamos juntas como no início de mim...
Se eu pudesse reviver os teus dias
Traria a ti momentos de vida e amor.
Se eu pudesse me transpor no infinito
Esperaria por o teu abraço intemporal.
Se eu pudesse atravessar a fronteira e batalhar
Derrotaria esse temor que te suga a vida.

DOR 

AMOR

Na linha da eternidade os limites são estreitos.
Na passagem efémera as importâncias não se distinguem.
Na luta pela sobrevivência as forças extinguem-se.
Não sei quem se cruza no limite da minha existência
Mas sei que a tua passagem não foi em vão por aqui.
Sei que debaixo dos teus olhos me confesso como não sou,
E longe dos teus braços me envolvo de tudo que repudias.
Distintamente nos identificamos no amor que nos transcende.

AINDA VIVO

Ainda vivo no teu abraço cansado,
e agarro-me a ele como uma imagem suspensa.
Ainda vivo no pesadelo acordado
a lucidez da morte anunciada.
Ainda vivo nos teus olhos moribundos
como um orgulho da tua passagem por aqui.
Ainda vivo nos teus braços mortiços
enquanto lutas para não nos abandonares.
Ainda vivo por entre os teus dias
enquanto morres nas minhas mãos.

MOMENTO

Vagueio nas entrelinhas do momento
E procuro a mensagem dentro da garrafa.
As palavras que nunca te direi...
São remorsos e fantasias que partilho mundanamente.
Deambulo no meu percursso sem coragem para gritar.
Circulo sem som para melhor perceber o silêncio.
Vagueio nas entrelinhas do momento.

DEAMBULAÇÕES

NAVEGAÇÃO

Indefinições no mistério das palavras.
Caracterizações curiosas do mundo...
Queremos beber o sumo da vida
E comer as emoções de sentir.
Definimos rotas para a navegação
E somos capitães da nossa viagem...

FIM

A rota para o fim é tortuosa...é ambígua e sequiosa.
Compele-nos para todos os lados e sentimentos.
Encontramo-nos no pormenor de um detalhe
e perdemo-nos em tudo que nos rodeia.

FIM 

ADEUS

Escorregam das minhas mãos os momentos em que a tranquilidade se encaixava.
Eram presentes do infinito sem reconhecimento de valor, eram intemporais.
Agora na inquietude da temporalidade fez-se angústia na água em que lavo as mãos.
Esfrego a cara com a realidade estilhaçada...firo a pele e dói o rasgo do sabor.
Sabe à luta perdida com os designios da finitude e ao sangue da união.
Sabe ao amor perdido das minhas mãos no encontro do teu rosto.
Sabe ao vento que seca as lágrimas que caem no meu e no teu corpo.
Estaremos unidas na intemporalidade da nossa infinitude: Adeus.

SEGREDOS

Tenho a consciência presa nos tornozelos
As amarras na minha alma...
Tenho o corpo à deriva no pântano.
Soltei a âncora dos meus pés e lancei-a
Não sei onde se enterra ou se perde
Sei que não pára e percorre o infinito.
Sei que desconheço o paradeiro e recorro
ao derradeiro desconhecido para me encontrar.
Trago os segredos nas mãos abertas.