Tuesday, February 13, 2007

ABANDONO

A pele na pele da transformação da chuva em suor do mar agridoce
Os olhos das folhas campestres que caíram nos meus pés de água salgada
Para navegarem num passado e presente interrompido de dias e horas contadas.
Velejei sozinha no céu acima dos mastros e lemes erguidos à grandiosidade azul
E voltei à ilha do sufoco escondido que desemboca no cais abandonado e marcado.
Atraquei o peito nú ao cartaz que anunciava o mar sereno, alaranjado e tardio
Mas as cordas soltaram-se e boiaram leves pela ondulação dos teus braços.
Afoguei-me na dor do teu corpo e remei ao abandono das tuas mãos paradisíacas.

Thursday, February 08, 2007

ESPERA

Pesam-me os olhos na noite obscura e transparente de ausência,
Transporto alucinações doseadas em comprimidos que ingiro regularmente
Guardo no bolso o pulsar das tuas veias e lavo as minhas mãos do teu corpo,
Dispo a distância que nos acolhe no Inverno cansado e mutilado
E nua me deito nas palavras esquecidas esperando os retalhos
Que das tuas mãos se transformem e me cubram os braços cansados.

Sunday, February 04, 2007

ANTOLOGIA ESCRITAS 4


"A Antologia de Escritas, organizada e editada pelo Professor José Félix, vem a lume pelo 4º ano consecutivo.Este número tem a particularidade de ter um apêndice dedicado à Escrita Criativa, cujo texto é assinado pelo Professor Doutor José Gil, Professor de Teatro e Comunicação na Escola Superior de Educação de Setúbal.A variedade e a diferença é feita pelos 21 autores que a compõem, originários dos mais diversos pontos do globo. Os P.A.L.O.P e a língua portuguesa são, nesta antologia, os soberanos.A apresentação deste volume teve lugar na Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira, em Leiria no dia 24 de Março de 2007, pelas 16 horas. A leitura dos poemas foi feita por Alice M. de Campos."

CAMINHO

Caminhei no lote das entregas devolvidas do teu cabelo negro,
Tropecei na embalagem caída, rasgada de cetim e alfazema
E escorreguei no aroma que distanciava as letras dos olhos.
Despiu-se a rua dos retratos e iluminou-se a efémera luz da noite,
Atravessei o cruzamento sem passadeira na troca do destino
E desci sem olhar para trás a rua do teu corpo cinzento e urbano.
Esqueci a morada dos teus olhos no bolso escondido e descosido
E o papel perdeu-se nas pedras que o caminho me mostra todas as noites.

Friday, February 02, 2007

Arte e Erotismo - Paulo Abreu


VIDA

Na semântica escravizada de emoções partem-se galhos brancos sem flor
Caem folhas vermelhas de rubores escondidos em tocas arcaicas e
Deslizam no vento as memórias amarelas dos corpos sem som.
Sento-me no chão estalado com tinta dos teus olhos nas minhas mãos
E pinto o chão da cor da tua pele e retrato a nudez da minha vida.