Wednesday, May 31, 2006
FÁBULA
Criando e recriando e cai a censura,
Na transformação do espaço
Habito no quarto indivisível,
Falo com as paredes do encantamento
E deito-me na cama suspensa dos teus olhos.
Todos os dias invento uma história,
Do teu corpo, das minhas mãos, de desejo...
E escrevo por entre a memória do pó habitado.
Construo a fábula dos meus dias
Enquanto a tua boca dança no mundo.
Tuesday, May 30, 2006
LABIRINTO
Claro e enebriante esse brilho que me chamou.
Magnetica a paisagem que tocaste.
Viramos as páginas e as mãos do que ficou
Entre o desejo e a vontade...esperaste.
Na quietude dos meus passos encontrei
Mãos inquietas de um caminho faminto,
Entrei na paisagem e acompanhei
A entrada do corpo no labirinto.
OLHAR
No raiar de um dia primaveril
Chegaste na linha dos passos lentos.
No percusso do entretanto olhamos a paisagem.
No decurso do presente cruzamos distancias.
Tocamos ao de leve na terra que nos sustentava.
No contexto do passado guardamos o olhar.
Monday, May 29, 2006
NINGUÉM
Desci a rua, dobrei a esquina e olhei o sinal.
Atravessei e entrei no passeio do outro lado.
E agora? A paisagem já não é a mesma...
Vejo o retrato do avesso, e no avesso está tudo branco!
Quem me ajuda a pintar o retrato no avesso?
Quem sabe as cores que com que se desenham o rosto?
Ninguém.
SAMBA
Preciso de entrar na musicalidade do samba
E entrar no som sem preconceitos de abanar o corpo.
Libertar as angústias que me amarram os braços,
Me prendem as mãos e entrelaçam o pensamento.
Quero abanar o corpo pelo caminho fora.
Quero despir este peso que se acumula nos meus dias
E usar bem pequenina a fantasia do desfile.
Preciso de um som que me faça sambar.
Preciso do calor que me faz despir.
Preciso de beber e perceber o que me está a matar.
Sunday, May 28, 2006
RESSACA
Na ressaca do teu corpo embebido
Trago a boca seca e o corpo dormente.
Trago os sentimentos anestesiados
Pela respiração da tua boca nos meus olhos.
Os cabelos macios e fortes na palma da lembrança.
No abraço da noite onde os sons permaneciam
Transformaste o desencantamento em desejo.
Transformaste o desencantamento em desejo.
Thursday, May 25, 2006
O QUE POSSO DIZER?
O que te posso dizer?
Que trazes o arco íris no corpo e seduzes o céu.
Que vens como uma nuvem carregada de intensidades
E não passas sem avivar o jardim dos meus dias.
Que floresço com a essência pura da tua pele.
Que cresço na doçura dos teus olhos,
Que me transformo nas tuas mãos sedentas.
O que te posso dizer mais?
VERGONHA
Não, não tenho vergonha de mostrar a minha alma nua ao teu corpo.
Trago os olhos no chão porque em cada passo procuro a tua sombra.
Trago os olhos angustiados porque cruzo as imagens que me ofereces:
Estão abertos, iluminados e refrescados pelo sentir da tua pele...
Estão fechados porque no escuro, no desvanecer da luz vejo os teus.
Não, não tenho vergonha de mostrar a minha alma nua ao teu corpo.
Wednesday, May 24, 2006
PASSAGEM
O que ensino aos teus olhos é uma onda da tua passagem.
O que aprendo nas tuas palavras são algas que ficam na areia.
O que fica do que aprendemos é navegação literária.
O que virá são sinais do tempo sobre o mar do meu corpo.
O que permanacerá são neblimas de desencontros de palavras.
Tuesday, May 23, 2006
FEALDADE
Na infinitude plena de espaço reside um corpo invisível.
De olhos rasos e cansaços pousados nos ombros
Vou ao teu encontro nos dias perdidos de mim.
Não tenho rosas nos olhos nem orvalho nos lábios.
Não tenho cabelos sedosos nem pele macia.
Não tenho a beleza das propostas diárias das revistas.
Tenho alucinações de prazer com o esgar dos teus olhos.
Tenho a febril realidade de conhecer o mapa do teu corpo,
E de viver ansiosamente com os desígnios da minha fealdade.
Monday, May 22, 2006
IMAGEM
Na secretaria envolta de papéis rascunhados e livros abandonados
Não cabe uma imagem perdida de um olhar fugidio:
Olhos isentos de conclusões que compõem narrativas de passagens,
Cabelos caidos ao peso da gravidade que empurra em descendente,
Formas que trespassam os ideiais encontrados na multidão...
Há lugar para as imagens das palavras que pousam na secretária.
Sunday, May 21, 2006
MOMENTO
Na verdura dos meus olhos provei a fruta da sua origem.
Enebriei-me com as cores da paisagem e pintei os traços.
Retoquei algumas cores com a luz que cobria o chão.
Acompanhei os passos lentos com o mistério da poesia.
Pintei caminhos sem destino com olhares envolventes.
Aconcheguei as palavras nas mãos e acariciei o momento.
Thursday, May 18, 2006
PRESENTE
Voei de encontro ao arco íris na linha da fantasia.
Voei fugindo da cor e da luz que irradiam os teus braços.
Voei nas mãos do desejo e senti a deslizar a pele da metamorfose.
Voei na minha sombra querendo-me ultrapassar...
E encontrei um presente deixado no hemisfério.
Sunday, May 14, 2006
SUBO
Degrau a degrau subo impetuosamente.
As pernas não acompanham o pensamento veloz.
Levo mistérios nas mãos e fantasias nos olhos.
Levo o desejo preso no teu corpo e subo...
Degrau a degrau subo impetuosamente.
Não renego a emoção da tua vida em mim.
O teu corpo traduz a vontade dos meus olhos.
E cruzamos caminhos na estrada das mãos.
Degrau a degrau subo impetuosamente.
Wednesday, May 10, 2006
RESUMO
Na ausência de metáforas resumo as palavras...
Na ausência do teu corpo resumo o desencontro...
Na ausência dos teus olhos resumo a beleza...
Na ausência de ti resumo-me a mim.
Tuesday, May 09, 2006
QUOTIDIANO
Espartilhamos ideias que sugamos dos dias de nada.
Deitamos na mesa as résteas do que saciamos repetidamente.
Deslocamo-nos de encontro ao incoerente como autómatos.
Desviamos pensamentos da conduta numa atitude demente.
Acrescentamos sorrisos à névoa que insiste em nos cobrir.
Vivemos ansiosamente a descoberta do quotidiano.
Sunday, May 07, 2006
DIA DA MÃE
Trazes as mãos sem os anéis do passado
E as rugas acumulam o caminho dos teus dedos.
Trazes a luta com o inimigo presa nos passos
E andas em desencontro da gravidade.
Trazes o olhar preso nas imagens suspensas
E vês em nós o esplendor da tua tortura.
As lágrimas que contive foram o presente do teu dia,
E sem palavras abrimos os meus olhos nas tuas mãos.
HISTÓRIA
Como a onda que bate na rocha deserta
Sinto a dor dos teus sentidos esvaír-se.
Salpicam fragmentos reais na maresia
E o sal agarra-se aos meus pés
Como as raízes se afundam no encontro...
Na sombra dos ramos entrelaçam-se conceitos,
Escolhas, preconceitos, vivências e melancolias.
Trago cravados os preceitos da tua e minha história.
Wednesday, May 03, 2006
PAISAGEM
O ruído que chegou na paragem do tempo
Caminhou sedento para o meu corpo
E rebentou sensações metafísicas de conhecimento.
Fluiu nas veias como água poluída e revolta,
E intoxicou-me de paisagens turísticas...
Não quero ver esses panfletos de horizontes perfeitos.