Sunday, July 30, 2006

LA SODADE

"Na antiguidade os sábios discutiam sobre o peso da alma
e em Cabo Verde existe uma medida precisa: la sodade (saudade)."
Estilhaçam-se os desígnios na intempérie da vontade versus o espaço.
Não encontro o planeta que flutua no mar de desejo e gira sem parar.
Não me aquece a manhã que acorda cansada do vento nocturno.
Não ampara os passos que teimam em calcar a água em vez da terra.
Não devolve os sonhos que pousei na excentricidade dos dias.
É uma medida precisa de horas vazias e minutos de intenso silêncio.

ANOITECE

Nas ondulações do silêncio vibram as ondas do teu olhar.
Pousam as gaivotas no limite da água que cai das tuas mãos.
Tudo pesa na paisagem do horizonte que anoitece permanentemente.

Sunday, July 23, 2006


MOTHER Posted by Picasa

EVASÃO

Atirada para o abismo da tua imaginação emergente
Há um véu misturado que te cobre o rosto
de alucinação e realidade, de tristeza e vontade.
Todos os dias subo a montanha dos teus olhos,
E tenho vontade de atirar o passado pelo desfiladeiro.
Já não sei que retratos fizeram a nossa história,
Já não sei que sementes deixaste para eu florir...
Mas sei que a cada vontade tua de evasão
Terás sempre à volta o calor da minha mão.

Thursday, July 20, 2006

ENCONTRO

Entrei na selva verdejante, algo anunciado de paraíso!
Entrei no intuito de uma passagem turística no verde.
Cheguei sem procurar nada que levasse no prospecto
E encontrei um animal encantador escondido numa árvore.
Sentei-me ao seu lado, acariciei-o, acolhi-o no meu colo,
Li-lhe as minhas histórias originais e exclusivas,
Fiz-lhe desenhos e contos para lhe pintar os tons da vida.
Juntos corremos, saltamos, atiramos pedras no rio,
Rimos e fugimos dos espaços em que as palavras se calavam.
Passaram os meses naturais da sua vida na selva
E chegou a hora de se esconder na sua hibernação.
Recolheu as palavras para a sua toca e esqueceu-se de mim.
Hoje vivo na selva, mudei a rota do meu destino e aceitei o desafio.
A vida mostrou-me que o verde pode trazer o que não procuramos.
Mas mostrou-me a beleza de um animal selvagem.

Wednesday, July 19, 2006

SILÊNCIO

Caminhas no silêncio dos teu passos e trazes o desejo fechado nas mãos.
De encontro ao precipício decides descansar as pernas desiquilibradas.
Sentas-te no chão do dia-a-dia e sentes a idade dos teus olhos a passar...
Os ramos da árvore continuam abertos para agarrar as tuas mãos.
Bebe o sumo da seiva que sobrevive à ausência dos teus olhos.
Descansa o corpo no tronco mesmo desiquilibrando os passos,
E abre as mãos para sentires a leveza das folhas na tua pele.

Tuesday, July 18, 2006


MORIBUNDO Posted by Picasa

RIO MORIBUNDO

Na suavidade e brancura da tua pele transparece o rio moribundo.
Já não corre pelas pedras nem atravessa a paisagem do teu percursso.
Já não chega à foz sem se desviar na procura e receio do anjo redentor.
Já não me refresca os lábios nas caminhadas que insisto em teu leito.
Já não me abre os braços como um porto seguro que sempre avistei e nunca senti.
Já não chego a tempo de encher o rio com água que trago nos olhos.
Na suavidade e brancura da tua pele transparece o rio moribundo.

Sunday, July 16, 2006

IDENTIDADE

Derramei o leite na mesa que serviu a alimentação do passado.
Chorei sobre a mesa que alimentou a identidade adormecida.
Sobre a mesa pousaste os punhos da intolerância na refeição.
Comi angústias embebidas em raiva dos teus olhos e
Chorei sobre a mesa que alimentou a identidade adormecida.

Friday, July 14, 2006

DESCOBERTA

O sorriso estilhaçou-se na ausência do caminho.
Um misto de devaneios atravessa o planalto desencontrado.
Eu pouso os pés nas pegadas que deixaste na verdura...
Sobra-me o espaço do desejo e falta-me o encontro de amor.
Vou pelo rastro das tuas mãos na utopia do teu corpo,
Mas faz sombra no chão do peso que o meu corpo transporta.
O vento empurra-me na direcção oposta de ti
E as rotas apagaram os caminhos para a tua descoberta.

Thursday, July 13, 2006


ONDAS Posted by Picasa

MAR EMOÇÃO

Abro a porta da casa do Éden e o jardim deita-se no corredor.
Atravesso-o na lonjura da esperança calcando a cor dos teus olhos.
Entro no quarto do paraíso e é abundante o cheiro da sedução.
Perfumaste a cama com o teu corpo luxúria, com o teu corpo redenção...
Deito-me na maresia e afundo os teus braços nos meus.
Alicerço os flancos como se fossemos âncoras atracadas no chão.
Dispo os meus olhos e conduzo as tuas costas como um leme.
Ondulam as mãos e transportamo-nos na brisa do mar emoção.

Wednesday, July 12, 2006

TEMPOS DO DESEJO

As construções que inventamos nos espaços em branco do presente,
São presentes que edificamos na passagem de mais um dia…
São rasgos das mãos reprimidas que escondemos nos bolsos.


Dou as mãos às tuas letras
E as noites serão claras
Escolho-me nos tempos, largo-me do presente
E edifico-me no futuro
Que o verbo tem
Abraçarei as tuas palavras no colo dos dias
Esquecerei as regras presentes enquanto brinco com os sonhos nos dedos.


E conto nos dedos as histórias que fomos vivendo…
Vivo no presente sem o futuro do verbo receber.
Trago o rio do teu corpo nas minhas veias
E corre pelo leito e colo a palpitar de vontade.
Na foz desemboco nos teus braços diluídos de amor
E mergulho nas lágrimas das ondas salgadas.


Prendo-me nos desejos que fogem do futuro
Envio os dedos para as histórias que te contei
Sacudo das arvores o barulho do cair das palavras
E na queda pendura-se o verbo amar às veias dos galhos secos do presente.


Ana Mª Costa e Mónica Correia

Monday, July 10, 2006


O MEU QUARTO Posted by Picasa

A VINCENT VAN GOGH

A intensidade da cor incorporou os meus olhos.
O nosso fascínio pelo amarelo!
Dizem que só os loucos gostam de amarelo.
O Meu Quarto amarelo e ali aos meus olhos.
No meu quarto amarelo recordo a intensidade!
Passaram tantos anos e tantas emoções,
Tantos viveram por entre as nossas existências...
Mas o amarelo une-nos na loucura de viver.
Na intensidade de marcarmos os passos pelo campo,
Pelas searas, pelas estrelas, pelas árvores...
Descobrimos caminhos com tristeza
Identificações desencontradas e amores fugidios.
Partilhamos a arte como uma renúncia de vida,
Mutilamos o corpo na tentativa da perfeição.
Apesar de me reler em ti estou tão longe...
Estou à distância da árvore que deseja o sol!

O VOO

Pelo caminho das pedras cheguei mais uma vez a ti.
A tua voz atravessa o túnel do desconhecido
E não sei onde acabam os acordes da tua dor...
É tua a vontade de chegar ao jardim eterno
enquanto o teu corpo se enraiza na terra de sempre.
São teus os pássaros que voam nos teus olhos...
Como posso quebrar essas asas fugidias?
Ensina-me o que aprendeste nas paisagens do passado,
Tenho cansaços mutilados pela tua ventura diária.
Quero-te aprisionar na minha gaiola de afecto...
Não voes Mãe para longe dos meus olhos.

Wednesday, July 05, 2006


OBRIGADA JORGE AMADO Posted by Picasa

GATO MALHADO E ANDORINHA SINHÁ

O gato malhado vagueava na rua da solidão
Enquanto a andorinha viajava e observava ao longe.
Apesar da estranheza das malhas os olhos ardiam
de desejo de ter asas e voar ao céu da vontade.
A andorinha entrou no círculo de fogo das malhas de pêlo
E aprendeu a linguagem da terra na fantasia cruel.
O gato deslumbrou-se com a elegancia das asas
E descobriu o sonho do céu nos desejos acorrentados.
Tranfiguraram o sonho e inovaram a realidade.

Tuesday, July 04, 2006

SOBRO II

O desenho esbate as cores definidas da onda que se desfaz no farol.
O silêncio da luz que transpõe o suplício é desígnio de Deus?
Não, na tua mão está o grito do corpo ardente na ponte,
Nos teus olhos o encontro da lua que se gasta nas palavras.

Monday, July 03, 2006


ESTAÇÃO Posted by Picasa

OUTONO

Na fantasia amordaçada regresso aos olhos do tronco.
As ramagens dos teus braços trazem o outono a mim.
Sem flores nem frutos permaneces na minha pele assim.
Alastraste as raízes procurando o alimento do desejo,
E sugaste o amor que havia esquecido na secura do tempo.
Do tempo trago a voz dos dias e o ruído das horas
A contagem das ausências da flor no toque e o fruto na dor.
A ramagem que se entrelaça nos meus olhos e a estação que perdura.